Museu da Ciência da Universidade de Coimbra – 05/11

“Algumas ervas medicinais da Amazónia- «O uso da Cabacinha»”

Por Anete Costa Ferreira

A Amazónia há séculos tem sido cobiçada por vários povos devido a sua imensa riqueza. Os primeiros navegadores extasiavam-se com a imensidão da floresta e faziam constar nos seus relatos de viagens a biodiversidade com que se deparavam.

Cientistas têm-se embrenhado na mata descobrindo plantas, aprendendo com os ameríndios os segredos da sua aplicação na medicina com eficácia, como nos dizem moradores nas suas informações orais.

Na nossa recolha investigamos algumas ervas utilizadas largamente na medicina tradicional da região e escolhemos entre outras a Cabacinha ( Luffa operculata) popularmente conhecida como Buchinha. Pertence a ordem das trepadeiras tem folhas em formato de coração, coloração verde e flores amarelas que possuem 5 pétalas. Unicamente seu fruto é utilizado no preparo dos remédios caseiros. Tem a forma e tamanho de um ovo de galinha, casca enrugada com saliências em picos, de cor bege. Suas sementes são lisas, pretas e achatadas, de sabor amargo. Cresce nas copas das árvores, nas várzeas, no período da cheia.

Os indígenas e a população rural consoante sua localização geográfica dão-lhe vários nomes Cabacinha, Buchinha, Buchinha do Nordeste, Buchinha do Norte, Abobrinha do Norte, Purga dos Paulistas, Purga de São João Pais, dentre outros.

É usada em forma de chá para tratamento nasal com a seguinte orientação: ferver ¼ do fruto seco em meio litro de água, durante 10 minutos. Depois esfriar e ir pingando uma gota em cada narina pela manhã e à noite ao deitar. Pode optar pela vaporização para desobstruir os seios nasais, olhos, ouvidos e faringe. Nunca engolir o que cai na boca. Cuspir de imediato. A cura depende do grau da doença que as vezes leva meses até sarar completamente a sinusite. O paciente deve observar as reacções para evitar hemorragia nasal e não esquecer de guardar o chá no frigorífico até 6 dias.

Dona Neide Primavera, 69 anos, moradora da cidade de Portel (Pará), diz: “é  imperioso obedecer regras para o uso do chá. Se sentir dor de cabeça acompanhada de febre e catarro esverdeado, o tratamento será pingar 4 vezes/dia; se for só o catarro esverdeado, 3 vezes/dia; quando atingir a cor amarelada apenas 2 vezes/dia e ao observar que o catarro está esbranquiçado aplicar só l vez/dia. Este é o sinal de que a pessoa está curada”. Disse ter assistido muita gente ficar boa.

A Buchinha é abortiva e seu uso requer precaução para evitar envenenamento, uma vez que remédios caseiros reagem de maneiras diferentes de pessoa para pessoa.

A Cabacinha está classificada nas propriedades medicinais como descongestionante nasais, drástico, laxante, vomítico e anti helmíntíco. É ainda  indicada para inflamações genito urinárias, oftalmologia, herpes, purgativo e diurético mas neste caso utilizar unicamente as sementes para fazer o chá.

É contra indicado tomar o chá para o tratamento da sinusite e renite. Se o fizer estará sujeito a irritação da mucosa, assim como o uso de super doses que provoca hemorragias, náuseas, cólicas e diarreia.

Estudos científicos da medicina referem a “Pílulas do Mato”: uma associação da “Batata-de-Purga” e da “Cabacinha”. O trabalho foi desenvolvido pelo Dr. Jorge Mattos entre1846 a1888, e é considerado um dos melhores remédios naturais que ainda hoje é amplamente usado pela população brasileira. Foi o primeiro fármaco natural registado oficialmente no Brasil. O farmacêutico Joaquim de Alencar Mattos seu filho, já no século XX deu nova apresentação ao produto revestindo-o de prata para evitar falsificação. Registou-o no Ministério da Saúde sob o nº 5, em 1908.

No ano de 1967, surge no campo científico a obra de Matos & Gottlieb na qual é abordado o isolamento do extracto aquoso do fruto, princípio amargo denominado isocucurbitacina B.

Curiosamente, o uso da medicina tradicional está se estendendo às cidades urbanas atingindo todas as classes sociais tanto no Oriente como no Ocidente.

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